Sou feita de poesia
Calço um chiclete grudado no pé direito
Para evitar que o pé esquerdo saia voando do chão
Os joelhos sempre apontam para onde eu quero ir
As coxas estão apaixonadas e não querem se desgrudar
Do quadril nasce o ritmo: siete, ocho, nueve y diez
Na barriga, carrego as sementes de todas as frutas que já experimentei
As cinturas (sim, são duas) estão aprendendo a respirar em silêncio
Porque dentro do peito é enorme e fundo
As mãos são a boca do coração e seguem sua própria religião
Os braços têm a certeza do infinito
Mas os ombros estão cheios de dúvidas
Ainda bem que as costas sempre lembram do caminho
O pescoço aprendeu tarde a dizer mais do que sim ou não
A cabeça é casa com janela e janelinha
E a porta é também cozinha
O queixo, quando cresceu, escolheu ficar mais perto do coração
O nariz, quando viu, quis seguir o exemplo
Adivinhando que a estranheza é mãe da perfeição
A boca é pequena mas está cheia do mais gostoso recheio que existe
Quando não estão olhando, os olhos enxergam muito longe
E para quem duvida, é só olhar:
Na testa está estampado o meu rosto